SÃO PAULO – Os temores acerca da fragilidade da economia dos Estados Unidos derrubaram as bolsas mundo afora nessa quinta-feira (4). O Ibovespa, por exemplo, registrou queda de 5,72%. Contudo, a possibilidade da recessão na maior economia do mundo ainda parece remota para alguns especialistas – e nenhum dado mostrou a existência da mesma. Como o investidor pode se aproveitar dessa fase?
O aspecto psicológico é de extrema importância nos mercados. Em um dia onde o principal indicador divulgado surpreendeu positivamente, as bolsas estiveram em queda livre. Essas incertezas são advindas da situação norte-americana, com a crise política referente à aprovação da elevação do teto da dívida no país, além dos últimos indicadores econômicos divulgados por lá, que mostraram uma recuperação bem aquém do imaginado.
“Houve uma radicalização em um processo que sempre foi simples”, disse Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. A visão dele a respeito da economia dos EUA mostra a divergência entre os diversos leitores do mercado. Leite, por exemplo, não acredita em uma recessão na principal economia mundial, e sim em um crescimento lento.
Contudo, Luis Otávio de Souza Leal, economista do Banco ABC Brasil, acredita que uma recessão pouco importaria – já que o mercado já está caminhando para precificá-la de qualquer forma. "O momento que os Estados Unidos entrarem em recessão pouco importa, o mercado vai saber que deste ponto em diante será "só melhora'", afirma.
Dados dos EUA são importantes no curto prazo...
Leal lembra que o mercado deverá continuar esperando por algum vetor realmente positivo para engatar uma tendência de alta. "Não adianta falar, temos que esperar os dados saírem. O viés do mercado é de baixa", afirmou Leal. O economista acredita que a próxima sessão será marcada pela visão do mercado frente à economia dos EUA. “O mercado deverá abrir de lado esperando o relatório de emprego norte-americano. Se for bom, recupera parte das perdas, se for ruim, não tem chão".
Por sua vez, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, põe a responsabilidade nos discursos a serem realizados no final de semana. “Temos de estar atentos para os dois lados do Atlântico, tanto EUA quanto Europa”, lembra Perfeito, que prevê um pregão complicado na próxima sessão.
Leite, porém, acredita que existe uma possibilidade de recuperação nesta sexta-feira (5), mas é cauteloso ao revelar uma opinião definitiva: "essa oscilação negativa deve durar até a próxima sessão, depois recupera lentamente. Acho que já está chegando no fundo", completou.
...e o médio prazo estará cheio de incertezas...
Leite, contudo, chama a atenção para o médio prazo, o qual ele acredita que estará cheio de incertezas. "Isso perdurará por um período mais prolongado. Os países desenvolvidos se endividaram muito e hoje possuem um déficit fiscal muito forte. Há muitas dúvidas sobre a Zona do Euro, como vai se portar."
Isso é reflexo da situação norte-americana, segundo o professor, que tem perdido importância relativa frente ao mundo, mas continua como principal propulsora dos mercados internacionais, e o próximo ano ou dois deverá refletir as incertezas.
Novos estímulos colaborariam para uma melhora no sentimento, avalia Perfeito. "O mercado quer ver um novo Quantative Easing (programa de compra de títulos do Fed)", revela o economista, que acredita que o governo norte-americano poderia tentar acalmar os mercados, o qual ele acredita ter passado por um pânico nessa sessão. Contudo, Leite contrapõe a percepção do colega economista, afirmando que a política monetária tem seus limites.
O economista-chefe da Gradual, porém, lembra de um detalhe que pode inclusive piorar a situação, que é o corte de gastos norte-americanos. "Será ruim para alguns setores, mas um alívio para outros. Eu, como economista, sugeriria cortar gastos em defesa, que compõem 50% do orçamento do governo. Porém, Obama está em uma saia curta. Você imagina o partido republicano aceitando isso?".
...mas quedas podem gerar oportunidade de entrada para longo prazo
Contudo, essa forte queda pode ter gerado uma oportunidade de entrada positiva para investidores com foco no longo prazo. "Se for por cinco ou 10 anos, é um momento favorável. Mas se o investidor for precisar do dinheiro em um ou dois anos, não", lembrou Leite.
Para o professor, a bolsa não tem tido muita conexão com os setores da economia brasileira, e sim com o cenário externo, que por sua vez passa por essas instabilidades. Leal é mais enfático: "se você tiver muito sangue frio, é um bom momento. Agora, se você acompanha a bolsa, fique fora, você vai ter um enfarto", afirma o economista do Banco ABC Brasil.
Para ele, o ideal também é se expor para o longo prazo, mas o economista ressalta que a bolsa pode até passar por momentos mais atrativos. Além disso, Leal revela uma preferência aos papéis defensivos. "Papéis com dividendos fortes são melhores no momento. Ou setores menos afetados por uma crise externa, como energia", concluiu.
05/08/2011
Por: Infomoney
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