O volume de registros de inadimplência no país recuou -4,44%
no último mês de dezembro em relação ao mesmo período de 2012. Trata-se
da quarta queda consecutiva e da baixa mais acentuada desde o início da
nova série histórica, calculada a partir de janeiro de 2012 pelo Serviço
de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL).
Os economistas do SPC Brasil explicam que a inadimplência veio em
forte ascensão até o final do primeiro trimestre do ano passado, mas a
tendência se inverteu a partir de abril, quando o Banco Central passou a
aumentar sucessivamente a taxa básica de juros da economia, a Selic, o
que encareceu a tomada de crédito no país, impactando o varejo como um
todo. Desde então, o volume de atrasos nos pagamentos das compras a
prazo passou a intercalar desacelerações com quedas.
Especialistas do SPC Brasil garantem que houve uma mudança na postura
dos bancos e lojistas, que passaram a exigir mais garantias dos
tomadores de financiamentos, fato que tem como conseqüência imediata a
redução do risco de calotes.
“O spread bancário maior e a menor confiança dos comerciantes sugerem
que a concessão de crédito está mais rigorosa. O atual cenário é de um
consumidor retraído para novas compras e forçado a adequar o próprio
orçamento frente a um novo ambiente econômico”, explica o presidente da
CNDL, Roque Pellizzaro Junior.
Os dados na comparação com novembro também mostram a inadimplência em trajetória declinante: o recuo foi de -1,73%, apurou o indicador do SPC Brasil.
A queda na comparação mensal confirma as expectativas, por ser um
comportamento típico deste período do ano. Em dezembro de 2012, também
ocorreu a mesma coisa (a inadimplência havia caído -1,17% em relação a
novembro). Na avaliação da economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, a
injeção de capital extra com o pagamento do 13º salário e o incremento
de vagas temporárias ao mercado de trabalho favoreceram o pagamento de
dívidas.
Com variações brandas ao longo nos últimos meses, a inadimplência do consumidor encerrou o ano de 2013 com aumento médio de +2,33%, resultado que contrasta com o crescimento de 12,18% da inadimplência observado ao longo de 2012.
“Para 2014, projetamos uma taxa de inadimplência semelhante a do ano
passado, mas com viés de alta, uma vez que pela primeira vez em vários
anos a perspectiva é de uma inversão no panorama positivo do mercado de
trabalho”, afirma Pellizzaro Junior.
Vendas a prazo
Reflexo de um resultado modesto do Natal e da alta de juros, que
impacta no custo dos financiamentos de bens no comércio, o número de
consultas ao banco de dados do SPC Brasil para vendas a prazo cresceu +2,90% em dezembro de 2013. O resultado foi pior do que o registrado em igual período de 2012, quando as vendas haviam crescido 5,37%.
“Nem mesmo o Natal, que é a data mais importante em lucratividade e
volume de vendas para o varejo foi capaz de reverter a desaceleração das
vendas que tivemos durante o ano. Para recuperar as vendas perdidas,
muitos lojistas já anteciparam as liquidações neste mês de janeiro”,
reitera Pellizzaro Junior.
A economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, explica que em 2013, o
varejo não contou com os mesmos fatores macroeconômicos que ajudaram a
aquecer o setor nos anos anteriores, como os altos índices de geração de
emprego, expansão da renda real e a larga oferta de crédito mais
barato.
A desaceleração nas vendas deve-se ao momento menos favorável ao
consumo das famílias, já que o custo para o consumidor comprar a prazo
aumentou. A escalada dos juros básicos da economia já dura nove meses.
De abril para dezembro, a taxa Selic saiu do piso histórico de 7,25% ao
ano, para o patamar atual de 10,00%.
Além disso, 2013 foi o quarto ano consecutivo em que o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, se manteve acima
do centro da meta fixada pelo governo, que é de 4,5%.
“O efeito da inflação sobre a renda dos trabalhadores foi corrosivo
ao longo de 2013 e reduziu o poder aquisitivo. Some-se a isso, o fim
gradual de isenções e reduções tributárias, como o do IPI para
eletrodomésticos, automóveis e móveis, que contribuiu para o menor
crescimento das vendas do varejo”, explica Luiza Rodrigues.
Na comparação com novembro de 2013, as vendas registraram alta de 28,65%.
Para o SPC Brasil, o número é considerado fraco para o período, visto
que em dezembro de 2012, as consultas haviam crescido 32,28% em relação
ao mês imediatamente anterior.
A perda de fôlego nas vendas a prazo também se repetiu no resultado consolidado do ano. Nos 12 meses de 2013, o crescimento médio do varejo foi de 4,12% contra 7,16% registrado em 2012.
A desaceleração do comércio varejista verificado no ano de 2013
também está ligada ao menor crescimento da renda do brasileiro, dizem os
especialistas do SPC Brasil. Segundo dados do Banco Central, nos
primeiros 10 meses de 2013, a massa salarial cresceu 3% em termos reais
em relação ao mesmo período do ano anterior, o que configurou o menor
crescimento dos últimos cinco anos.
Fonte: SPC Brasil
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