Em 2010, a dança das cadeiras no mercado de trabalho foi a mais intensa dos últimos cinco anos. Todo mês, em média 3,3 profissionais em cada 100 trocaram de emprego na região metropolitana de São Paulo, informa o Ministério do Trabalho.
Essa alta rotatividade se explica, em parte, porque as oportunidades se multiplicaram em 2010. Com a economia aquecida, foram abertas na região 416,5 mil vagas com carteira assinada no ano, ante apenas 159,7 mil em 2009. Com mais opções, o trabalhador pôde largar o emprego antigo e partir para algo melhor – seja uma vaga com salário mais alto ou que atendesse mais às suas expectativas profissionais.
Guido Sarti, de 22 anos, conseguiu unir as duas coisas. O relações públicas, depois de trabalhar por quatro anos para um escritório de advocacia, o jovem foi contratado como funcionário de um empresa do ramo de tecnologia.
Na mudança, o salário subiu 45%. “Mas confesso que essa nem era minha principal motivação para mudar”, afirma Sarti. Ele conta que admirava muito os seus novos chefes, e a oportunidade de trabalhar ao lado deles foi o grande chamariz da vaga. “Pela minha idade, acho que estou em uma fase que o mais importante é aprender. É isso que esse emprego hoje me proporciona”, acrescenta.
Além de oferecer qualificação contínua, as empresas que quiserem manter seus talentos em tempos de alta rotatividade também devem criar planos de carreira, para que o trabalhador sinta que seu bom desempenho pode resultar em ascensão profissional. “Mas só isso não basta”, avisa Márcia Pedroza, professora da disciplina de Emprego da PUC-SP. “É preciso remunerar bem. Quem paga salários mais altos têm mais chances de ficar com os melhores trabalhadores, especialmente em tempos de alta rotatividade.”
Mas não é apenas a expansão da economia que tem intensificado a dança das cadeiras no mercado de trabalho. Há setores que têm como característica a sazonalidade – o comércio, por exemplo, costuma dispensar parte dos empregados após o Natal.
Nesses casos, a rotatividade não pode ser encarada como boa notícia para os trabalhadores. “Esses setores costumam demitir os funcionários de tempos em tempos porque sabem que será fácil repor essa mão de obra, de baixa qualificação”, avalia José Dari Krein, professor de Economia do Trabalho da Unicamp. “E temos que lembrar que nessas áreas em que o fator sazonal é relevante, além da alta rotatividade, há ainda um grande número de trabalhadores sem carteira assinada, uma precariedade do mercado.”
O caso da construção civil é emblemático. O setor tem uma taxa mensal de rotatividade de 4,6 trabalhadores para cada 100 – a mais alta entre todos os ramos de atividade avaliados pelo Ministério do Trabalho. Esse é o resultado da combinação de um mercado extremamente aquecido, com alta sazonalidade e baixa qualificação profissional.
Para Clemente Ganz, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a alta rotatividade denota uma “falta de sofisticação da economia”. “Quanto mais elaborado é o processo produtivo de um País, quanto mais valor agregado têm seus produtos, menor é a rotatividade”, diz Ganz, que coordenou o estudo para o Ministério do Trabalho. “Tudo porque economias mais sofisticadas precisam de trabalhadores qualificados. E quem emprega esses profissionais se preocupa em treiná-los e retê-los, então não há tanta movimentação”, conclui.
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